Jerusalém, 12 de Fevereiro de 1911
Minha Amada Madalena
Sei que me dão como morto desde há 16 anos, aquela coisa incandescente no céu amaldiçoou a nossa pátria, fazendo daquela batalha um fracasso. Aqui em Jerusalém somos doze, os lusitanos cativos, entre os quais o nosso El Rei D. Sebastião. Amanhã vão-me soltar no deserto onde morrerei à sede e à fome. Por isso, agora que posso, despeço-me de ti, minha Madalena, minha mulher honrada. Eu amo-te, e sempre te amarei. Nunca parei de pensar em ti desde o dia que parti em direcção aquela terra condenada.
Tenho saudades tuas, sonho todos os dias com o nosso casamento naquele jardim florido do nosso palácio em Almada, que não tem nada a ver com este lugar quente e maldito, onde apenas se vê areia.
Espero não te estar a afligir por estar vivo. Com a minha morte, decerto já voltaste a casar com outro homem e já tens uma filha linda, tal como querias. Mas sei que seremos sempre a alma gémea um do outro. Agora, com a ajuda de Deus, regressarei à minha terra pela rota das caravanas. Não te angusties, porque se Deus deixar, apenas te verei mais uma vez até partir para o paraíso.
Fica descansada que eu perdoo-te e Deus também te perdoará.
Despeço-me com saudade de uma pessoa digna e pura.
Um grande beijo
Do teu grande amor
D. João de Portugal
P.S. Mesmo que esta carta não chegue ao local certo, quem a ler não se preocupe pois levou a um enorme alívio do meu coração.
(João, 11ºB)
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